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  • Foto do escritorNilto Tatto

ARTIGO: OUTROS CARNAVAIS


Se para uma boa parte dos brasileiros e brasileiras não há clima para festejar o carnaval em meio a 240 mil mortes causadas pela COVID19, para outros, um grito segue entalado na garganta, causado pelo vazio deixado tanto pelos entes que partiram como pela festa que não foi. A ausência de celebração da mais tradicional e identitária festa brasileira, que sintetiza o estereótipo alegre do nosso povo, amplifica ainda mais as dores das perdas.



É claro que não podemos permitir que o discurso de ódio e a indiferença tomem o lugar da alegria de viver tão característica do brasileiro. Por outro lado, o momento exige respeitar e viver o luto, fazendo dele também instrumento de nossas lutas. Haveremos de celebrar este e tantos outros carnavais, mas não agora, não sobre os corpos de nossos irmãos e irmãs; pais, mães, avôs e avós; filhos e filhas; homens, mulheres e crianças que se foram nesses quase 12 meses de pandemia.


Celebrar o carnaval está no nosso sangue, no meu inclusive, mas não é e nem pode ser a única maneira de preservar a identidade do povo brasileiro. Somos alegres, festivos, mas também muito trabalhadores e solidários, e esta última talvez seja a nossa característica mais importante neste momento, capaz de salvar as nossas e outras vidas. Poderia citar mais uma vez alguma das inúmeras e maravilhosas iniciativas beneficentes que se multiplicaram desde março do ano passado por todo o Brasil, mas um outro acontecimento merece especial destaque.


Quando Julio Lancellotti quebrou as pedras colocadas pela prefeitura de São Paulo debaixo de um viaduto com o intuito de coibir moradores de rua a buscar abrigo no local, o padre, coordenador da Pastoral do Povo de Rua, ajudou a reascender os espíritos da fraternidade e da luta em defesa dos desvalidos que sempre habitaram nossos corpos, mentes e corações. Depois do ato do padre, cidadãos tomaram iniciativas semelhantes em outras cidades do País. Hoje estamos derrubando pedras e assim também se derruba o fascismo. Isso é que não pode ficar para outros carnavais.








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