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  • Foto do escritorNilto Tatto

ARTIGO: ESTADO DE CHOQUE


O Estado de choque da sociedade brasileira, causado não apenas pela pandemia de Coronavírus, mas também pelo show de horrores promovido pelo governo Bolsonaro desde o primeiro dia de governo, vem criando as condições para implementar reformas impopulares. A mesma prática pode ser observada à partir da década de 1960 em muitos países que adotaram as políticas econômicas do falecido economista Milton Friedman, da Escola de Chicago, da qual o ministro Paulo Guedes é discípulo.



Segundo a jornalista canadense Naomi Klein, em seu documentário “A Doutrina do Choque”, tais políticas, baseadas no livre mercado, se tornaram relevantes não por sua popularidade, mas pelos impactos de desastres ou crises e seus efeitos sobre a psicologia social. É o famoso “enquanto uns choram, outros vendem lenço”. Quem não se lembra da postura do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, quando falou em alto e bom som, que a pandemia era uma oportunidade de mudar todo o regramento ambiental brasileiro, ou nas palavras dele, “passar a boiada”?


Em bom português, o padrinho de Paulo Guedes entendeu, em meados do século passado, que empresas privadas, ou “o mercado”, podem ganhar muito com as crises e passaram não apenas a tolerá-las, mas a promovê-las. O que justifica o fim do auxílio emergencial em meio à intensificação da pandemia, enquanto os bancos privados recebem auxílio de 1,2 trilhões de reais? Estariam estes bancos honrando a contrapartida de facilitar o crédito para micro e pequenos empresários? O que o governo brasileiro tem feito para fiscalizar estas instituições? Nada!


Até o final do ano passado, em meio a maior pandemia do século, os 20 indivíduos mais ricos do mundo acumularam 1,77 trilhões de dólares, ou seja, 24% a mais que no ano anterior. No Brasil o recorte não é muito diferente: até setembro de 2020, apenas 42 brasileiros lucraram mais do que todo o custo do auxílio emergencial. A crise, portanto, não é democrática, como quer fazer parecer o governo – ela incide brutalmente sobre os mais pobres, vítimas desse Estado de choque, enquanto tem sido extremamente benéfica para os mais ricos.







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